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Riscos psicossociais
Decisão impõe medidas após fiscalização na JBS de Seberi
Justiça do Trabalho afirma ter constatado “epidemia” de adoecimento mental com 581 atestados médicos e R$ 675 mil em custos previdenciários
Por: Márcia Sarmento
Publicado em: segunda, 24 de novembro de 2025 às 09:23h
Atualizado em: segunda, 24 de novembro de 2025 às 09:33h

A Justiça do Trabalho concedeu liminar determinando que a JBS/Seara implemente ações imediatas para prevenir riscos psicossociais na planta frigorífica de Seberi. A decisão, proferida pela Vara do Trabalho de Frederico Westphalen, atende a pedido do Ministério Público do Trabalho (MPT) em Ação Civil Pública (ACP) ajuizada após inspeção realizada em junho deste ano.
Segundo a decisão da magistrada titular, Fabiana Martins, a ausência de gestão adequada desses riscos viola o direito fundamental à saúde e segurança no trabalho e tem gerado um cenário alarmante de adoecimento mental. A empresa deverá reconhecer os riscos psicossociais nos seus programas de saúde e segurança (Programa de Gerenciamento de Riscos, PGR e Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional, PCMSO), avaliar fatores que afetam a saúde mental dos trabalhadores e adotar medidas concretas para reduzir esses impactos. 
Entre as obrigações impostas estão a criação de canais de denúncia, vigilância ativa sobre ergonomia cognitiva, participação dos empregados no processo e registro detalhado das ações. O descumprimento pode gerar multa diária de R$ 50 mil por obrigação e R$ 2 mil por trabalhador prejudicado.

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Problemas 
Segundo o MPT, frigoríficos apresentam fatores de risco psicossocial como jornadas exaustivas, ritmo intenso, isolamento social, alta repetitividade e ambiente físico adverso, que contribuem para o aumento de casos de ansiedade, depressão e estresse. A planta de Seberi, alvo da ação, emprega cerca de 2 mil funcionários trabalhando em condições de desgaste intenso. A unidade abate 5,6 mil suínos e produz 530 toneladas de produtos por dia. Embora a empresa mantivesse PGR e PCMSO, os planos não reconheciam nem abordavam os aspectos psicossociais entre os riscos oriundos da atividade no frigorífico.
Os dados apresentados pelo MPT mostram que entre 2019 e 2025, na unidade de Seberi, foram registrados 581 atestados médicos por transtornos mentais e comportamentais, sendo 233 por ansiedade generalizada e 55 por transtorno de pânico. Setores como Desossa e Abate concentram os maiores índices, só na linha do pernil, 55% dos trabalhadores apresentaram atestados por problemas psicológicos. Além disso, 88 benefícios previdenciários foram concedidos por transtornos mentais entre 2020 e 2025, cinco deles na modalidade acidentária, sem que a empresa emitisse qualquer Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT). O custo para a Previdência Social ultrapassou R$ 675 mil, com mais de 13 mil dias de trabalho perdidos.

Ações
Em junho, logo na sequência da ação fiscal, a empresa assinou um Termo de Ajuste de Conduta (TAC) emergencial cobrindo as situações que ofereciam riscos mais graves e iminentes à integridade física dos trabalhadores. Depois, uma proposta de TAC mais abrangente, contemplando todas as irregularidades encontradas, foi apresentada à JBS/Seara, que recusou o acordo. 
Em consequência, o MPT apresentou uma série de ACPs para disciplinar diferentes conjuntos de violações. Essas ações já obtiveram liminares (algumas delas confirmadas pela rejeição de Mandados de Segurança impetrados pela JBS) promovendo garantias como: proteção contra ruído excessivo a gestantes, com realocação imediata de trabalhadoras expostas acima de 80 dB; privacidade nos vestiários, exigindo cabines/divisórias para troca de uniformes; regularização do prêmio assiduidade, vedando exclusão do benefício por faltas legalmente justificadas; garantia do direito à amamentação às trabalhadoras lactantes, com a obrigação de disponibilizar para o aleitamento local apropriado, e em horários compatíveis com a jornada; mudanças no sistema de recebimento de atestados médicos, dentre outras.
 

Fonte: Jornal O Alto Uruguai, com informações do MPT