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ATL Sul 2025
6º Acampamento Terra Livre Sul mobiliza povos indígenas em Iraí na última semana
Atividade ocorreu na Terra Indígena Aeroporto e antecede a etapa nacional realizada em Brasília
Por: Camila Oliveira
Publicado em: segunda, 08 de dezembro de 2025 às 11:03h
Atualizado em: segunda, 08 de dezembro de 2025 às 11:22h

A 6ª edição do Acampamento Terra Livre Sul (ATL Sul) se encerrou no sábado, 6 de dezembro, após reunir desde terça-feira povos indígenas da região sul na Terra Indígena Aeroporto, em Iraí. Entre os dias 2 e 6, o encontro promoveu uma série de debates sobre o cenário do movimento indígena no contexto regional. Realizado em sistema de rodízio entre Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, o ATL Sul integra a mobilização que antecede a etapa nacional do acampamento, realizada anualmente em Brasília.

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Participaram representantes da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), da Articulação dos Povos Indígenas da Região Sul (ArpinSul), da Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade (Anmiga) e do Conselho Nacional dos Povos Indígenas (CNPI), além de professores, comunicadores, agentes comunitários e povos Kaingang, Guarani, Xokleng e Xetá.

Com o tema deste ano “O Sul do Brasil é Terra Indígena: Memória, Território e Cultura Viva”, a programação articulou debates, oficinas, rituais e apresentações que valorizaram os conhecimentos compartilhados entre anciãos, jovens e representantes das comunidades. Os diálogos também abriram espaço para refletir sobre a relação entre cultura, territorialidade e meio ambiente em um momento marcado pela intensificação dos eventos climáticos extremos na região.

Memória, territorialidade e cultura viva

O tema central orientou as discussões ao longo da semana, que convergiram para um ponto comum: a relação indissociável entre natureza, cultura e modo de vida dos povos indígenas. Segundo eles, o ambiente não é apenas o espaço físico de moradia, mas a base que sustenta a alimentação tradicional, os rituais, a transmissão de saberes, o cuidado comunitário e a organização social.

Essa relação entre modo de vida e equilíbrio ambiental se reflete em dados concretos. Um levantamento de 2025 do Instituto Socioambiental (ISA), intitulado Desmatamento em Terras Indígenas, aponta que tais territórios apresentam, em média, um grau de preservação 31,5% maior que áreas externas, resultado de modos de vida que mantêm relação direta com a restauração e o cuidado ambiental.

Na Mata Atlântica, bioma predominante no Norte e Noroeste do Rio Grande do Sul, as Terras Indígenas conservam 53,7% da vegetação original, e mais de 90% do desmatamento registrado nessas áreas ocorreu antes dos anos 2000. Mesmo com danos ambientais históricos, a regeneração florestal tem superado a perda de vegetação desde 1991. No Pampa, embora o desmatamento acumulado seja maior, a pesquisa do ISA indica que a recuperação dentro das Terras Indígenas foi 41% superior à perda total entre 1986 e 2023.

Os dados apresentados dialogam com o entendimento compartilhado pelos povos indígenas no acampamento. O coordenador-geral da 6ª edição do ATL Sul, Jonathan Kaingang, reforça a relação de seu povo com o meio ambiente: “Nós somos filhos da natureza, né? E jamais um filho deve judiar da sua própria mãe, do seu próprio pai, da sua própria casa. Porque a natureza nos fornece tudo”.

As lideranças destacam que a presença de Terras Indígenas é benéfica para toda a sociedade, pois contribui para a regularização da chuva, a preservação da fauna e flora, a biodiversidade e a manutenção da cultura originária. Ao cuidarem de seus territórios, os povos indígenas garantem água limpa e oxigênio para todos. Estudos científicos comprovam os benefícios das Terras Indígenas, como a regularidade da chuva, importante até mesmo para o agronegócio. Além disso, a maior parte dos territórios preservados no Sul do Brasil está dentro das Terras Indígenas.

Fonte: Jornal O Alto Uruguai, com informações do Instituto Socioambiental (ISA)