A fundação SOS Mata Atlântica divulgou na quarta-feira, 30 de junho, um relatório que evidencia a fragilidade do bioma no Rio Grande do Sul, local onde restam poucos núcleos do ecossistema. Na região, a situação é igualmente delicada, já que estão preservados apenas 6,90% do território original do bioma, que recobria quase a totalidade do Norte e Noroeste gaúcho, além do litoral, Serra e parte da região central.
O Atlas da Mata Atlântica mostra que o Rio Grande do Sul aumentou o desmatamento das áreas desse bioma em 73% no comparativo entre os anos de 2018/2019 e 2019/2020, totalizando a derrubada de 252 hectares da floresta. O resultado é o pior para o Estado desde os anos de 2008/2010, quando a SOS Mata Atlântica apontou que foram desmatados 1,8 mil hectares em solo gaúcho.
Ausência de desmatamentos pode ser ilusão
Produzido em parceria com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o Atlas da Mata Atlântica monitora essas condições desde os anos 1980, por meio de imagens de satélite. Na edição de 2021 do relatório, publicada nessa semana, os pesquisadores não identificaram traços de desmatamento em áreas maiores do que três hectares nos municípios da região.
O resultado confirma o que foi exposto em uma pesquisa recente do MapBiomas, projeto que também monitora as matas brasileiras por meio de imagens de satélite, e que não relatou supressão significativa da vegetação nos municípios abrangidos pelo AU. Ainda assim, há poucos núcleos da floresta na região, que já perdeu 93,10% da área original da Mata Atlântica, segundo a pesquisa.
Além disso, outro motivo que não permite comemorações com os indicadores do Atlas é o relato da Polícia Ambiental de Frederico Westphalen (Patram-FW), responsável por fiscalizar questões ambientais em 24 municípios. Segundo os militares, entre 85% e 90% dos desmatamentos que ocorrem na região são de áreas menores do que três hectares. Segundo o comandante da Patram-FW, sargento Márcio Mezzaroba, os poucos núcleos remanescentes de floresta na região são em locais onde não há possibilidade de plantio. “São terras de difícil acesso, solo pobre, em que as máquinas não conseguem acessar, por isso ainda estão de pé”, afirmou.
Ele ainda demonstrou preocupação com as derrubadas feitas nessa época do ano. “Por desconhecer as regras ou por má-fé, alguns produtores suprimem vegetação nessa época do ano para fazer plantio, então esse momento do ano é crítico nesse sentido”, disse o militar. Recentemente, os policiais atenderam uma ocorrência de desmatamento de seis hectares em Caiçara, registro que deve constar na próxima edição do relatório feito pela SOS Mata Atlântica (mais informações sobre os crimes ambientais da região estão no caderno Polícia, nesta edição do AU).
Núcleos de preservação e de extinção
Na região, os municípios com as maiores áreas proporcionais de floresta compartilham características, como a presença de parques ou reservas demarcadas. Em relação ao tamanho original da mata em cada município, Erval Seco, Dois Irmãos das Missões e Planalto são os que ainda contam com as maiores proporções do bioma. Na outra ponta do ranking estão Cerro Grande e Vicente Dutra, com apenas 1,59% e 1,60%, respectivamente, da área original de mata nativa.
Cenário nacional
No Brasil, foram desflorestados 13 mil hectares da Mata Atlântica no período. Apesar desse número ser 9% menor que o levantado em 2018-2019 (14.375 hectares), representa um crescimento de 14% em relação a 2017-2018 (11.399 hectares), quando se atingiu o menor valor da série histórica. Os três Estados que mais desmataram no período anterior seguem no topo do ranking – Minas Gerais, Bahia e Paraná. Junto de Santa Catarina e do Mato Grosso do Sul, respectivamente o quarto e o quinto da lista, eles acumulam 91% da perda de vegetação da Mata Atlântica entre 2019 e 2020.
Consulte a situação em sua cidade
A situação do bioma em cada cidade pode ser consultada no site https://www.aquitemmata.org.br. No endereço, é possível ver o total de área verde, dividida pelas categorias, mata, área natural não florestal, mangue e restinga, o total da população do munícipio, as áreas de unidades de conservação, a proporção de área de Mata Atlântica, as bacias hidrográficas presentes no município, a taxa de desmatamento do município de 2000 a 2013 e o ranking municipal de desmatamento.
Ranking de desmatamento e preservação da Mata Atlântica na região