Papo de Bola
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sexta, 22 de agosto de 2025

Carrinho de rolimã

Saudade daquele tempo que já vivemos. Aquele tempo onde a poesia tinha valor, que carrinho de rolimã literalmente atropelaria qualquer tela de celular, que jogar Caçador era a coisa mais divertida do mundo, que roubo era apenas uma artimanha sobre beijos em festinha de garagem…

Saudade, também, daquele tempo que víamos (ou ouvíamos nos chiados das ondas médias do rádio) nossos times jogar sempre às quatro da tarde de um domingo, algo que hoje parece raro. E por falar em nossos times, naquele tempo Grêmio e Inter não eram apenas dois clubes gaúchos, mas dois gigantes do continente que disputavam taças como quem jogava Bafo no recreio, de igual para igual com quem aparecesse na frente.

Saudade do Dinho, do Adilson, do Guiñazu e do Bolívar. Saudade dos cabeceios do Jardel e do Fernandão, das faltas perfeitas que Arce e Jorge Wagner cobravam, das correrias do Sóbis e do Paulo Nunes, do Felipão sendo o pioneiro em enlouquecer em frente à casamata, do Abelão abraçando cada jogador como se fosse um filho… Saudade de quando um Flamengo com Zico e companhia sofria no Bento Freitas diante do Brasil e não vinha passear em Porto Alegre como vem fazendo seguidamente. Saudade de quando olhavam para nós e nos respeitavam de verdade.

Estamos rumando para um futuro às cegas. Amanhã é outro dia, mas hoje é isso que aparenta. Não sei exatamente qual loucura estaria passando pela cabeça do tio do pão e também não sei para onde o barco do Inter vai velejar diante de uma dívida que logo passará de um bilhão, mas estamos com uma forte tendência de sermos por longo tempo apenas coadjuvantes da nossa novela. Seremos aquele ator que estará na mesa de fundo do restaurante para compor a cena enquanto o Rodrigo Lombardi ou o Cauã Raymond jantam na mesa da frente, nos holofotes.

Talvez o que mais faça falta, hoje, nem seja exatamente um título de peso, mas aquele sentimento coletivo, quase infantil, de que tudo era possível, quando o craque do time saía da base, quando nossas equipes tinham alma, quando perdíamos em casa e aplaudíamos o esforço pela honra da camisa. Títulos de peso seriam consequências desse conjunto de fatores.

O fato é que sempre precisamos colocar a boa e velha pitada de otimismo em tudo. No futebol, como no nostálgico tempo dos carrinhos de rolimã, às vezes a gente desce a ladeira e rala o joelho, mas não pode baixar a guarda e tem que “alinhar as rodinhas tortas” e tentar de novo. Que voltemos a ser grandes como times e não apenas como clubes. E que assim, também como nas corridas de rolimã, a gente possa se reerguer para que fique bem claro que a descida nunca será o fim da história.

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