Dominamos a tecnologia ou é ela que nos conduz?
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terça, 02 de setembro de 2025

As diferenças geracionais sempre existiram. A distinção é que, há algumas décadas, as transformações da sociedade seguiam uma linha considerada natural de evolução. 
Com a chegada da internet, esse processo passou a ser acelerado, retirando de nós muitas referências do que é certo ou errado. Antes se dizia: “são novos tempos”; hoje, afirma-se: “é uma outra realidade”. E já não temos a segurança de dizer que estamos mudando para melhor. Apenas é possível constatar que as mudanças acontecem em velocidade vertiginosa, sobretudo desde que as redes sociais se incorporaram ao cotidiano das pessoas, em especial das crianças.
Ao analisar as mudanças geracionais, é necessário adotar um olhar crítico. Cada criança, adolescente ou jovem convive com duas fontes de referência: de um lado, a educação dos pais; de outro, a educação mediada pelo Google, pelos influenciadores digitais e, mais recentemente, pela inteligência artificial.
As pesquisas longitudinais sobre o comportamento da sociedade conduzidas pelo IPO – Instituto Pesquisas de Opinião – permitem acompanhar essas transformações no pensamento social. Elas evidenciam uma transição: saímos de uma realidade mais passiva para uma dinâmica mais ativa. No consumo de mídia, por exemplo, antes recebíamos o que os veículos tradicionais, televisão, rádio e jornais, selecionavam para que nós tivéssemos acesso. Havia, inclusive, a crítica recorrente de que a grande mídia escolhia intencionalmente o que mostrar, criando recortes que interessavam aos “donos do poder”.
Hoje, em contrapartida, temos acesso a todos os canais de informação do mundo. Podemos escolher o que consumir, a quem ouvir e, mais do que isso, passamos a produzir conteúdo. Muitos “militantes” celebram esse fenômeno como sinônimo de maior engajamento, autonomia e empoderamento social e digital. Defendem que o empoderamento digital é o processo pelo qual indivíduos ou grupos adquirem mais poder de ação, decisão e participação social por meio das tecnologias digitais.
    Mas essa premissa não é necessariamente verdadeira! Alimentamos a ilusão de que dominamos a tecnologia, quando, na realidade, é ela que nos conduz.
O controle da grande mídia possuía método, ciência, linha editorial e recortes temporais submetidos a filtros. Havia o trabalho de uma rede de profissionais, jornalistas, fotógrafos, revisores, “tentando” mostrar os vários aspectos da realidade.
Hoje, o que nos guia é o algoritmo. Ele constrói jornadas personalizadas de conteúdo, nos mantêm em bolhas informativas e entrega materiais patrocinados, inclusive por oportunistas e golpistas. O algoritmo funciona como um observador silencioso. Ele vê o que você curte, clica, assiste ou lê, e começa a entender seus gostos. A partir disso, ele te mostra mais do mesmo, como se dissesse “já que você gostou disso, talvez goste daquilo também”. 
Não é à toa que as pesquisas sobre jornada de mídia realizadas pelo IPO têm monitorado a preocupação e a insegurança das pessoas com os conteúdos digitais e um crescente movimento de valorização da mídia tradicional e dos jornalistas, como uma fonte confiável diante das inúmeras Fake News. 
Temos que perceber que as decisões individuais estão cada vez mais moldadas por sistemas invisíveis, capazes de antecipar desejos e influenciar comportamentos. O resultado é a dissolução da ideia de controle individual, uma autonomia aparente que, na prática, nos torna mais dependentes das engrenagens digitais e das grandes big techs.

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