Hoje eu acionei meu “modo ironia”. Vamos lá.
Nunca generalizando, mas o torcedor gaúcho merece aplausos. Não por causa de títulos recentes que tenham peso relevante, vitórias convincentes ou futebol bem jogado. Nãnãninãnã. Merece porque transformou a arte de rir do vizinho quase como um patrimônio. Eu estar bem? Capaz, o importante é o lado de lá estar fracassando. Aqui pouco importa.
Se minha lateral é uma avenida, não importa. O que interessa é que a zaga deles fura em todo santo jogo. Meu atacante mandou a bola pra lua? Irrelevante. Afinal, o goleiro deles anda falhando. Tenho zero motivos para comemorar, mas eles também não têm. A segunda-feira do torcedor mais fanático só é feliz porque a segunda-feira do rival não vai ser boa. E assim a mediocridade toma conta cada vez mais da nossa cultura futebolística.
E quando falo de cultura, é por que o futebol aqui pelas nossas bandas se criou e se mantém na conjuntura do “oito ou oitenta”. Claro, desde que o meu lado seja oitenta, até porque somos maiores do que eles. E não estamos nem aí se o mundo pensa ao contrário. Nós estamos certos e fim de papo. Cada vez mais distante das grandes conquistas, cada vez menos respeitados, mas estamos certos. Azar de quem se acha coerente ou queira colocar em nossas cabeças que os tempos mudaram. Aqui não mudou. Somos do tempo do epa.
Não sei se você notou, mas o único lugar do mundo onde um patrocinador tem que colocar a marca na camisa de ambos é aqui. Isso aconteceu por décadas com uma instituição financeira, depois com um plano de saúde e mais recentemente com uma casa de aposta. Em todos os outros lugares do planeta, inclusive na Groenlândia, é diferente. Azar o deles que estão errados e são um bando de retrógrados.
Nossa lógica é simples: minha tristeza só tem graça quando acompanhada da desgraça do rival. Sou triste por minha causa, mas sou feliz por causa deles. Estranho, mas é isso. Vejo meu barco afundando, mas e daí? Estou mesmo é rindo do barco do vizinho que nem coletes salva-vidas possuía em seu interior. Carro preso no trânsito? Vou sorrir, aumentar o som e curtir, até por que olhei para o lado e vi o carro dele preso, também. A desgraça compartilhada é sempre mais leve.
Lembra do Íbis, aquele que já foi considerado o pior time do mundo? Nesta semana, por exemplo, nossa relevância foi a mesma dele. Nenhuma. Ninguém lembrou que o Íbis existia. E nem de nós. Ficamos juntos, na frente do sofá, vendo times medianos como Vasco e Athlético-PR ainda sonhando com a Copa do Brasil. Ao menos aqui ninguém é infeliz sozinho.
Pronto, era isso. Modo ironia desligado.
