Espreguiçando o ócio
**Os textos de colunistas aqui publicados são de sua total responsabilidade e não refletem a opinião do jornal O Alto Uruguai.
sexta, 19 de novembro de 2021

Estamos quase em dezembro, o mês que “inaugura” um trimestre recheado de festas, feriados e férias, que começa com o Natal findando só no Carnaval, quando oficialmente inicia o ano. Assim, refletimos sobre a “preguiça”, um Pecado Capital, que costuma estar mais presente nesse período do ano. A preguiça é definida por falta de disposição, lentidão, também associada à aversão ao trabalho e de gente que gosta de “se levantar tarde” e aqui faço um parêntese. Necessariamente quem acorda tarde não traduz uma pessoa preguiçosa, havendo vários motivos que justifiquem esse hábito, desde ter adormecido altas horas da madrugada, por tomar algum tipo de medicação ou mesmo por opção de trabalho. Tem sujeitos que rendem melhor intelectualmente na calada da noite e nisso o sociólogo italiano Domenico de Masi justifica ao falar do Ócio Criativo que trata da flexibilização na escala de trabalho. Essa tese aponta que cada um tem um tipo de relógio biológico, o que a priori as empresas deveriam entender como uma oportunidade de aproveitar o potencial de seus subordinados não os sujeitando aos costumeiros horários engessados. É claro que ainda são poucas profissões que podem gozar dessa benesse, salvo os autônomos, contudo, a mudança na cultura organizacional já é vivenciada em grandes empresas que entendem a forte ligação entre produtividade oriunda do bem-estar cultural e emocional de seus funcionários. Importante atentar que a preguiça além de um modo de ser, pode ser um termômetro de que algo não anda bem sendo necessário rever o motivo porque o corpo se rebela e se a falta de vontade abrange todas ações ou se é restrita a algumas coisas. O momento exige reflexão e não autopunição, e o foco deve ser entender porque procrastinamos determinadas tarefas (deixar para depois o que pode resolver hoje) ou precrastinamos antecipando tarefas desnecessárias como forma de adiar coisas primordiais a serem feitas. São aqueles momentos que você se organiza para trabalhar ou estudar, mas resolve responder e-mails, olhar as redes sociais, arrumar gavetas, limpar a casa ou escritório e assim, cansando mesmo antes de começar. Agimos desse modo como fuga ao que nos causa desconforto e para não sentirmos a culpa de não ter feito nada, mas no fundo sentimos a frustração de não ter realizado o que deveríamos. Há quem advogue a favor da preguiça dizendo ser fundamental para saúde mental como o cientista da universidade de Chicago, Christopher Hsee e o neurocientista da universidade de Nova York, Andrew Smart quando fala que “Trabalhar demais é tão perigoso quanto fumar” sendo necessário longas pausas para que o cérebro estabeleça conexões que podem levar ao autoconhecimento e a criatividade. Desse modo, a tradicional soneca depois do almoço, conhecida como “siesta” em muitos países latino-americanos, é positiva na visão desses especialistas que confirmam melhorar o raciocínio e a produtividade. Discussões sobre a preguiça existiam até no Olimpo questionando seu lado bom ou ruim, sendo Palamedes – herói grego –, um defensor ferrenho da preguiça por entender que era fonte de energia e revigoramento, por isso distribuía passatempos aos soldados nas pausas de guerra. Já, a ninfa Quelone (tartaruga, em grego), foi castigada pelo deus Hermes por ter perdido o casamento de Zeus e Hera por preguiça, pois não conseguia acompanhar os passos do deus mensageiro e cansada cochilou no caminho.... Vai entender os deuses...enquanto isso, continuamos aqui, espreguiçando o ócio!
 Bons Ventos! Namastê.
 

Fonte: