A história de um tombo
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segunda, 13 de dezembro de 2021

Uma pequena história – das tantas e tantas – de minha infância.
O Chico era um pouco mais velho que eu. Porém, volta e meia saía com nossa turma, fosse para bater uma bolinha, fosse para andar de bicicleta, enfim. E a história de hoje é sobre um tombo de bicicleta.
Como ele era um pouco mais “experiente” do que nós, isso também refletia automaticamente nas atividades. Era ele quem driblava os menores com mais facilidade, que subia nas árvores como um líder para tirar bergamotas, que sabia empinar a bicicleta. E o empinar das bicicletas nos encantava. Ele manjava bem, indiscutivelmente.
Quem não lembra da Caloi Cross? Eu tinha uma, mas mal a pena sabia pedalar e andar com parcimônia. Não apenas eu, mas minha turma. A gente só fazia o básico. Qualquer um que fizesse um pouco a mais do que o básico já servia para ser nosso ídolo. E o Chico era esse cara.
Teve uma tarde que a gente se divertia em frente à escola. O pessoal arrancou toda a calçada de frente para fazer uma nova e ali ficou uma terra com alguns morrinhos. Foi o suficiente para o Chico tomar velocidade e saltar. E a gente só contemplava seus “voos”.
Até que teve um momento em que, talvez, a autossuficiência subiu à cabeça e ele decidiu tentar saltar mais alto do que podia. Tomou mais velocidade para realizar a manobra e saltou com tanto ímpeto que a bicicleta escapou de seu controle e “voou” por conta. Resultado: um banco estraçalhado para ela e alguns esfolões consideráveis para ele.
Lembrei dessa história para fazer um comparativo ao rebaixamento do Grêmio. Um clube com várias conquistas recentes, organizado, com dinheiro em caixa, com um time longe de ser ótimo, mas que em hipóteses alguma poderia chegar ao ponto em que chegou.
Autossuficiência leva a erros, e erros que custam caro. “Nós somos exemplo de gestão”. Que exemplo de gestão? Vender bem e contratar mal? Ficar o campeonato inteiro no Z4 e ser rebaixado? Se vangloriar de superávit e não ter um camisa 10 que preste? Me poupem.
Enfim, tombos sempre servem de lição. Que esse sirva, também. Porque para o Chico, pelo menos, funcionou. Nunca mais eu soube de tombos de bicicleta por parte dele.
 

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