As férias do presidente
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quarta, 09 de fevereiro de 2022

A opinião pública esclarecida já firmou consenso sobre a gravidade do atoleiro em que o Brasil foi jogado. Analistas, que comentam fatos do cotidiano, relacionam alguns componentes da crise. Na base de tudo está a crueldade da maldita pirâmide social. Enquanto 1% de ricaços abocanham 50% das riquezas, 50% dos mais pobres dividem 1% da riqueza. Quarenta milhões passam fome. Quinze milhões estão desempregados e outros vinte e cinco milhões amargam condição de subemprego. Onze milhões de crianças e jovens abandonaram a escola. A pandemia recrudesce com novas variantes. Profissionais da saúde estão exauridos e doentes. O sistema hospitalar dá sinais de colapso. Enchentes catastróficas arrasam cidades, patrimônios e infraestrutura. Seca inclemente murcha plantações no Sul. Queimadas destruíram milhões de hectares de mata nativa. Desmatamento ilegal e garimpos clandestinos devastam milhares de quilômetros de terras públicas.
Enquanto isso, o presidente se deu ao luxo de desfrutar férias em um forte guarnecido pela marinha. Pediu para não ser incomodado. Fez questão de ser visto chegando de avião presidencial, acompanhado da família, seguranças e serviçais. Sentia-se glorificado ao postar para as redes sociais seu cotidiano de privilegiado. Exibia-se praticando esportes náuticos radicais e rodopiando com carro choque em parque de diversões. Em seus palpites infelizes sobre a realidade brasileira regateava as vacinas para crianças, atacava a Anvisa e chamava de tarados por vacinas os peritos que a defendem. Parecia um deus que sabe tudo ao pedir que alguém lhe mostrasse que alguma criança teria morrido de Covid, mesmo que o ministério tivesse já confirmado mais de quatro mil mortes. Sendo um ignorante grosseiro se imagina sábio. Ele ainda não visitou uma escola pública degradada, um hospital público colapsado, uma região submersa pelas enchentes, uma lavoura esturricada pela seca. Ele chuta, mente, blefa e se gaba de ser a personalidade mais importante da história do Brasil, título que inventou para si mesmo.
O jornalista Jorge Pontual, no dia 30/12/2021, comentando longa lista de incoerências do governante, disse que será lembrado como o pior governante da história republicana. Segundo ele, o Brasil sofre também de outra epidemia, a caquistocracia. Literalmente, o governo dos piores, dos maios inescrupulosos, dos psicopatas incorrigíveis. Estes sim, são tarados pelo poder, obcecados pelos privilégios e traidores do povo que os elegeu. No pronunciamento que fez, no fim de ano, pintou seu governo como o mais fantástico do mundo. Assim, estava a Rússia na véspera da revolução soviética. Milhares de miseráveis morriam de fome e frio, enquanto Nicolau II caçava raposas polares. Para ele, a Rússia ia bem. Ao retornar da caçada foi capturado e fuzilado pelos bolcheviques.
Gonzalo Vecina, ex-presidente da Anvisa, comentou as megalomanias do capitão presidente dizendo que se trata de um psicopata que deveria ser interditado. Disse que a situação brasileira caminha para conjuntura de explosão social. A seca, as enchentes, o desmatamento, as queimadas, a pandemia e o pior dos governos estão fazendo do Brasil um profundo vale de lágrimas.

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