Saiba viver com menos
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quinta, 24 de fevereiro de 2022

Você seria capaz de descartar 50 coisas da sua vida? Objetos, situações e hábitos? Quanto aos objetos, vivemos o dilema de Hamlet: “ser ou não ser”, isto é: jogo ou não jogo fora? O exercício de se desfazer das coisas ou de não acumular demais reflete o que você sente e pensa. É a prática do desapego que deveríamos fazer a cada seis meses porque é um exercício de autoconhecimento. Tirar o entulho da nossa frente gera clareza.
No livro “Jogue fora 50 coisas'', (Ediouro) da americana Gail Blanke, é apresentada a metodologia da Gail para organizar a vida a partir da triagem e desapego em vários aspectos da vida. Todos nossos bens materiais: automóveis, decoração da casa, sapatos, roupas, entre outros, são elementos que empregamos para exteriorizar nossa personalidade, para nos autodefinir. Somos presas fáceis capturadas pelo consumo. O que é realmente essencial em nossa trajetória? O que de fato tem valor para a gente?
A maior dificuldade no descarte é a tomada de decisão. O acúmulo de afazeres e de coisas nos fazem perder o foco daquilo que é essencial. O excesso paralisa nossa existência, “as melhores coisas da vida não são coisas”, é preciso minimizar a bagagem tendo uma relação saudável com o consumo. 
A japonesa Marie Kondo se transformou em guru da organização ao relacionar a técnica do descarte com as emoções. No best-seller: “A mágica da arrumação”, (Sextante) a autora reitera que os cacarecos acumulados são uma metáfora das decisões que não conseguimos tomar. Para ela, o excesso de bens materiais, de informações, paralisa diversos aspectos da existência. Um exemplo atual é das pessoas que se preocupam mais em postar fotos do que apreciar uma viagem.
Como sugestão indico o documentário “Minimalismo: um documentário sobre as coisas importantes'' disponível na Netflix. Ele gira em torno de uma turnê literária sobre o livro da dupla Joshua Fields Millburn & Ryan Nicodemus, criadores do site The Minimalists. Em resumo, estes dois rapazes eram pessoas que tinham dinheiro e “sucesso”, mas não eram felizes em suas vidas, consigo mesmos e em seus relacionamentos. Foi então que eles encontraram no minimalismo uma nova forma de viver. Nele condena o consumismo e mostra caminhos para viver com mais satisfação e menos dívidas.
Enfim, questionar nossa rotina, se desapegar de objetos e repensar nossas escolhas na vida faz parte de um processo de faxina física e emocional. Viver com menos (consumo consciente) nos dá uma sensação de liberdade. Termino com Cora Coralina, poeta mineira que nos diz: “Fechei os olhos e pedi um favor ao vento. Daqui para frente levo apenas o que couber no bolso e no coração”.


 

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