Cala-se importante voz do Alto Uruguai
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segunda, 28 de março de 2022

No dia 14 de março, Euclides Argenta emudeceu por completo. Durante longos anos os ouvintes da Rádio Luz e Alegria escutaram o Argenta, por meio dos seus programas, dos seus comentários, das suas intervenções na emissora. Presente desde os primeiros passos da empresa radiofônica, foi ele um dos mais celebrados locutores, como vem elogiosamente assinalado por Monsenhor Vítor Batistella, no Livro Painéis do Passado. Dada sua competência foi guindado à direção. Para dar maior amplitude à matriz AM, foi um dos criadores da FM, sendo proprietário de 50% das ações. Posteriormente, a Diocese de Frederico Westphalen, por meio do bispo dom Zeno Hastenteufel, adquiriu o controle total das emissoras. Cioso dos cuidados técnicos que a radiofonia exige, não titubeou em viajar aos EE.UU., a fim de adquirir os famosos transmissores Harris, tendo como cicerone o padre Ártico, já que o seu inglês não ia muito além do “thank you very much”!
Na sua profissão de radialista pautou seu comportamento no lema da Instituição “Luz - pelos ensinamentos e informação e Alegria - pelas boas músicas” como gravou o inesquecível fundador monsenhor Vítor. Teve como bússola no seu trabalho a religião, a qual serviu como dedicado apóstolo. Morre aos 87 anos, deixando um legado social e uma lembrança que orgulha não apenas a família, mas toda a comunidade. 
Sempre otimista, sempre sorridente, conquistava pela simpatia e cordialidade. Não esqueço modesta passagem na rádio. Um dia, dom Bruno desafiou os Cursilhistas: “quero na rádio um programa exclusivo sobre formação religiosa”. Formou-se então um grupo de voluntários, inexperientes em rádio, mas entusiastas na evangelização, que criaram um quadro “Janela Aberta”. Tudo gratuito, sem patrocínio. Conversamos com o Argenta que prontamente disponibilizou um horário nobre no domingo e ensaiou nossa caminhada na trilha radiofônica, já que o microfone é um aparelho que mete medo em muita gente. 
Lembro outro episódio que revela o temperamento esportista do Argenta. De uma feita, desembarcou na Cidade uma trupe de marqueteiros da Chevrolet, que exibiam arrepiantes acrobacias automobilísticas. Zuniam com seus carros, a toda velocidade, na rua do Comércio, e freavam abruptamente na frente de outro carro estacionado. Se o freio falhasse, o acidente era fatal. O povo, ávido de fortes emoções, apinhava-se nos dois lados da Avenida. O incrível desta loucura é que no para-choque do carro estava amarrado um cidadão. Se ocorresse o inesperado, a vítima ficaria totalmente esmagada. Hoje, esta aventura seria proibida. Imaginem quem era um dos voluntários do para-choque? O Argenta, para desespero de sua nervosíssima esposa Teresa De Cesaro. A freada brusca fazia cantar os pneus do carro, e o para-choque de um, quase beijava a traseira do outro. As pessoas mantinham a respiração em suspense, soltando um ‘ah’ de alívio, passado o tremendo susto. 
Tenho certeza que lá no céu, o Argenta, o monsenhor Vítor, o Edgar e o Nolcy estão em animado bate-papo, tentando convencer o rude São Pedro a instalar uma rádio. Vivo estivesse hoje, dom Bruno produziria laudatória homilia nos funerais do Argenta.
 

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