Eu contava com apenas dez anos de idade quando meu pai ficou enfermo. No final do dia, antes do jantar, era costume eu dar-lhe um abraço. Enquanto dirigia-me até ele, entrevia os últimos raios de sol que fulguravam de vermelho intenso toda a nossa casa, tornando aquele momento ainda mais solene. Abri suavemente a porta do cômodo. Prostrado em seu leito, meu pai olhou-me com um amor muito mais profundo do que das outras vezes. Ao vê-lo, meu espírito encheu-se de compaixão e de pesar. Compreendi que sua existência esmorecia, pelo seu rosto turvo e emagrecido. Ele olhou-me demoradamente mais uma vez. E falou com voz fraca:
- Meu pequeno João Sebastião, quanta música vejo em teus olhos... e que o mundo haverá de ouvi-la eternamente.
Depois, calou-se um momento, ficou excessivamente perturbado como se enxergasse uma visão miraculosa na brilhante luz do infinito. Vi que ele chorava comovido, então movi-me rapidamente tomando-lhe a mão.
- O que foi papai?
Em seguida, ele falou apertando-me contra o seu peito:
- Sua música será cantada no Céu!
E assim, naquela bela hora do entardecer, seu corpo veio a descansar. A mesma hora em que, outrora, a pomba trouxe um ramo de oliveira?em seu bico. A mesma, e formosa hora em que também Jesus cumpriu Sua Cruz e redimiu-nos com Seu Amor.
Não há de se duvidar que o nome Johann Sebastian Bach, é o mais profusamente reverenciado pelos músicos do que qualquer outro nome de compositor. As 15 Invenções para cravo (instrumento da época), foram compostas por esse compositor para que seus alunos fossem encorajados à composição e desenvolvessem a prática de execução da música polifônica. Apresento, pois, aos estimados leitores, minha primeira gravação com a interpretação ao piano dessa obra de Bach. Ao ouvi-la, proponho dois desafios: O primeiro, que seja percebido se as notas são tocadas de maneira ligada ou separada (Este aspecto está relacionado às diferentes colorações dos toques pianísticos). O segundo, constatar se certos trechos melódicos aparecem imitados (ou repetidos) na região mais aguda ou mais grave do piano. O recurso da imitação caracteriza um estilo de composição chamado contrapontístico. Tenham uma ótima apreciação!
