Surpresas, acasos e outras coisas boas da vida
**Os artigos aqui publicados são de responsabilidade de seus autores, não traduzindo a opinião do jornal O Alto Uruguai
sexta, 28 de outubro de 2022

O jargão futebolístico cunhado pelo comentarista Benjamim Wright ao dizer que “o futebol é uma caixinha de surpresas” restringe o potencial dos acasos, que nos surpreendem a cada esquina em sentimentos e sabores. Culpar as Mouras (Μο?ραι) – as irmãs citadas na mitologia grega como responsáveis por fabricar nossos destinos – pelo andar de nossa vida são desculpas para quem teme assumir responsabilidades frente às inúmeras escolhas que surgem no decorrer da vida. Certamente não são as Parcas que conduzem o nosso tear, mas nossos desejos. Os dias ensolarados ou chuvosos que servem de pano de fundo no enredo de nossas rotinas, por vezes nos deixam um tanto acomodados com as métricas diárias.  Se a vida se renova a cada segundo lá fora, tem gente que prefere restar no que chamam de ápice do equilíbrio em viver, com seus horários para acordar e tomar o desjejum, em almoçar a quantidade balanceada prevista na dieta, tendo horário para praticamente tudo não sobrando espaço para surpresas. Assim, acabamos perdendo o hábito de surpreender e desejar ser surpreendido como se a surpresa fosse uma maldição a ordem das coisas tão bem estabelecidas. O medo de sacudir a poeira e ver o que sobra faz com que milhares de pessoas se mantenham presas a empregos que odeiam e a relacionamentos sem sal por julgarem que isso traduz maturidade emocional, de modo que, pensar em transgredir o status quo é visto como um retrocesso, uma rebeldia ou “coisa de adolescente”. Incrível como nos boicotamos e nominamos o simples da vida com tabus inexistentes e desnecessários, em uma equação louca do certo e do errado das coisas, com limites que nós mesmos estipulamos, mesmo quando a vontade é de rasgar a folha e começar um novo desenho. A vida passa correndo e os Natais, que se repetem em velocidade ímpar, anunciam fim de ciclos na esperança de novos ensejos. Na famosa “sacudidela de fim de ano” onde revisitamos como foi o ano que se finda, costumamos projetar muitas coisas que acabam por não se concretizar porque já nascem mortas, fruto de nossa ignorância em não apostar em mudanças. “Um dia de cada vez, que é pra não perder as boas surpresas da vida” era a regra de Clarice Lispector que inspirou muita gente, devido ao seu estilo de vida inusitado aos padrões da época. Na dúvida... Viva! Não recuse beijos e carinhos, não se recrimine por burlar dietas e não deixe de se surpreender com o tanto que a vida pode nos dar, é só querer.
Bons Ventos! Namastê.
 

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