Ser ou não ser, eis a questão!
**Os artigos aqui publicados são de responsabilidade de seus autores, não traduzindo a opinião do jornal O Alto Uruguai
sexta, 17 de fevereiro de 2023

É fácil e cômodo ser reconhecido quando se circula em pequenas sociedades, onde todo mundo se conhece e sabe sobre a vida alheia. Sobre o reconhecimento - por vezes não tão meritório assim -, cada um recebe a alcunha que lhe cabe, tendo como fatores o status econômico que ocupa nessa comunidade e a maneira como pauta sua vida. A narrativa introdutória parece retrógrada e não pertencente aos tempos vigentes, no entanto, esse arcadismo ainda vigora em muitas localidades, estando distante de se entender como um sentimento de pertença à terra natal. Aqui, entendemos como uma extrema incapacidade de "sair da bolha" e saber viver em qualquer lugar, sendo mais um nessa sociedade cada vez mais diversa. Caminhar pelas ruas como um cidadão comum e ter o seu ir e vir não interrompido a cada quadra por cumprimentos, para uns pode ser libertador enquanto para outros, extremamente frustrante já que existe uma rotina arraigada e prazerosa nisso. Você vai dizer: são culturas diferentes que distinguem as pequenas das grandes comunidades. Vai questionar o que tem de errado nesse modus aparentemente tão acolhedor. E vai concluir dizendo que os incomodados que se mudem. De certo que sim, só que o cerne da questão, não são as localidades em si, mas a maneira como alguns de seus sujeitos se comportam. Da dificuldade que possuem de se sentir legitimados e seguros quando estão fora de seu habitat e, principalmente, da imaturidade revelada através da soberba, de quem se intitula "rei" ou "rainha" em terras que aparentemente domina. Analisando o dia-a-dia das coisas mundanas em sociedade, parece comum realizar atividades como ir à missa, ao supermercado, ao cinema ou em um bar. Por exemplo, o fato de ir a uma missa só vira um acontecimento exigindo vestuário sofisticado, quando há um casamento a ser celebrado, do contrário, nossa preocupação ao entrar em uma igreja deveria ser a de comungar a fé e não a de desfilar o último lançamento da coleção. De igual maneira, ao frequentar um happy hour, a ideia deveria ser a de congratular junto aos amigos, esquecendo o entorno dos transeuntes que entram e saem do recinto. Essa preocupação excessiva de estar sempre em evidência, ultrapassa o narcisismo e namora com questões mais profundas da persona, merecendo atenção. A pergunta é: quem é você? Que imagem tenta transmitir aos outros? Essa imagem condiz com o que você realmente é ou quer ser? Por último, você se sente a mesma pessoa à mercê do local que esteja ou apenas quando está na sua zona de conforto? A resposta a essas perguntas talvez explique o porquê tanta gente ao viajar à passeio, logo sinta a vontade de voltar para casa. Por detrás do que se pode pensar como "saudade" se esconde insegurança, medo de não aceitação e a perda do "status" que possui na sua sociedade de origem. Ser ou não ser, eis a questão, e a decisão é exclusivamente sua.
Bons Ventos! Namastê.
 

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