Des(encontros)
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sexta, 17 de março de 2023

Embora tenhamos a tendência de querer controlar o destino das coisas, o fato é que a vida é plena de encontros e desencontros, e não temos o poder de dar rumo às coisas, pessoas e sentimentos, já que o movimento da vida não depende exclusivamente da nossa vontade. O tempo é inexorável e nos faz ter pressa na busca de equilíbrios, harmonias e simbioses, mas sabemos que nem sempre a história é assim. Ganhar e perder faz parte da evolução do ser humano. Encontros e desencontros não estão necessariamente relacionados a pessoas, mas ampliado a lugares, profissão, projetos de vida, sabores e maneiras de ser. Existe um tanto de apego e desapego que marcam esses encontros, que podem ser breves e maravilhosos (são aqueles momentos que desejamos que fossem eternos, do tipo “congela tudo que eu quero ser feliz”) ou não tão bons assim, mas sempre válidos, no mínimo para não os repetir. Nesse caminho conhecemos pessoas que nos modificam e contribuem para nossa reforma íntima, e outras que nos destroem. Há pessoas que surgem como anjos e desaparecem por magia. Já, outras que nos acompanham por uma vida inteira e, apesar de não terem os encantos angelicais, nos amparam sempre que necessário. Somos ciosos da brevidade dos instantes, assim, devemos aproveitá-los o melhor possível. Capturá-los com a alma e não ficar pensando em quando irão findar. Ser feliz é ter a certeza de perdas, na medida em que há sempre uma despedida escondida em uma alegria (não é pessimismo, mas pura realidade). Artur da Távola dizia que há sempre um "E depois? após cada felicidade. Há sempre uma saudade na hora de cada encontro. Antecipada. Disso só se salva quem se cura, ou seja, quem deixa de estar feliz para ser feliz, quem passa do estar para o ser”. Logo, a ideia é viver plenamente o presente, sem ficar conjugando futuros. Registrar momentos na fração de segundos com que se manifestam é o que Clarice Lispector chamava de “instante-já”. Evitar as armadilhas dos desencontros se entregando sem titubear com ausência de palavras, orgulho ou medo. Basta fazer trocas espontâneas e deixar de lado discursos preparados. Basta aguentar o silêncio que um olhar às vezes provoca e saber interpretar os sinais não verbais. Assim, quando um encontro lhe bater à porta com um pedido de chegada, será mais fácil abraçá-lo, mesmo sem saber quando vai ir … “A vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida” (Vinícius de Moraes).
Bons Ventos! Namastê.
 

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