A paróquia pede socorro
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sexta, 17 de março de 2023

Na edição 28 de janeiro de 2023, este belo e bom jornal, deu grito de socorro em favor da paróquia e da catedral. Há restos a saldar da reforma e o dízimo não cobre as despesas do cotidiano. Minguam as contribuições, aumentam as despesas. Ildo Zanella assina a queixa e cita números. Fala que vivem em FW 6,4 mil famílias católicas e se cada uma ofertasse R$ 10/mês, a contabilidade paroquiana ficaria resolvida.
Atenção! Poderá piorar. É necessário reconhecer que a população de FW não é mais formada só de católicos. Quando a catedral foi iniciada eram alguns poucos que não professavam o credo ensinado pelo padre Vitor. Um era o sapateiro “sabatista” que atendia os colonos no fundo da casa escondido, aos domingos. Agora, há templos por todo lado. Todo momento aparece algum, ainda acanhado, mas como os demais, breve ganha visibilidade. Aumenta a população dos evangélicos e decresce a de católicos. Este é fenômeno global. O teólogo Hans Küng, no livro A Igreja Tem Salvação?, diz que a igreja católica poderá tornar-se uma congregação residual, entre as demais igrejas. Küng, durante anos, foi acolhido como expoente em assuntos de história da Igreja. Não se trata de palpite qualquer.
A situação do catolicismo na região não é diferente do resto do mundo. Então, não se pode mais pensar uma estratégia de recolhimento de dízimos imaginando que todos somos católicos. O dízimo encolhe por minguarem os católicos e por aumentar a avareza dos que continuam indo à missa. A obra da reforma da catedral poderia ter inebriado o ânimo dos católicos. O clero, estando o bispo à frente, poderia ter feito da campanha de arrecadação de recursos a ocasião de reformar também a fé dos contribuintes.
“Reconstrua minha igreja” disse o Crucificado para Francisco, há novecentos anos. Ele, italiano fogoso, convidou os amigos e se atracaram a reformar a velha igreja da vila. De novo, em sonhos, Francisco ouviu o pedido: “reforma minha igreja, não aquela de pedra”. Antônio, chamado de Pádua, foi visitar o papa Inocêncio III e lhe fez duras críticas a respeito da luxúria em que havia se atolado a hierarquia romana. Inicialmente, o papa não suportou o ataque. Queria o fim do jovem pregador. Mas, em sonho, viu a catedral de Roma caindo em ruínas. 
Bergólio, eleito papa, assumiu o cognome Francisco para alarmar o clero sobre a urgente necessidade de reformar a Igreja, a partir do que Jesus pediu aos seus seguidores que testemunharam sua fé nas catacumbas romanas. Para isso, diz Küng, o clero precisa se desfaz dos atavismos de poder, ou cada vez mais a Igreja vai encolher.
Quando o padre Vitor começou a mobilização para construir a catedral, numa de suas visitas às famílias para arrecadar fundos, lá em casa, ele determinou a cota da família:  porco gordo, barril de vinho e saco de feijão, além da promessa de dias de trabalhos braçais. Alguns anos depois, o pai avaliando a grandiosa obra disse que com o dinheiro gasto na construção teria dado para construir duas igrejas e mais confortáveis. O estilo gótico da catedral será sempre problema não pequeno para sua manutenção. O estilo vicejou na Europa, no hemisfério norte, onde cai neve, o inverno é longo. Não há necessidade de ventilação. Escolha equivocada para a obra em FW, região quente. As pontudas torres, lá, eram sustentadas com pedra e tijolos de excepcional qualidade. De terra vermelha não se faz tijolo resistente.
A situação crítica está posta. Os tijolos esfarelam, a fé esfria, os contribuintes somem, clérigos se imaginam detentores de toda a verdade, bispos não obliteram vaidades fúteis e o catolicismo vai se tornando uma seita residual. Socorro, Santo Antônio!
 

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