O brasileiro está aprendendo a ser cigarra ou formiga?
**Os textos aqui publicados são de total responsabilidade de seus autores, e não refletem a opinião do jornal O Alto Uruguai
quinta, 21 de setembro de 2023

Todos conhecem a fábula de Esopo, ou La Fontaine ou Bocage, falando sobre a cigarra cantora e a formiga operária. No verão, a cigarra tinha um conjunto, fazia sucesso nos bailes, enquanto a formiga juntava comida no formigueiro. Chegando o inverno, todos se encolhem nas suas tocas e a cigarra percebeu que o armazém seu estava vazio. Foi então socorrer-se da vizinha formiga que tinha provisões em abundância. Então a formiga questionou o que ela tinha feito no verão.
Responde a cigarra: “Eu cantava
Noite e dia, a toda hora”. 
“O bravo!” – torna a formiga,
“Cantavas? Pois dança agora”...

Esta inteligente fábula nos ensina que devemos amealhar, amontoar recursos, fazer seguro enquanto vivemos a primavera da existência, tempos de bonança, para que a poupança nos socorra nos momentos de dificuldade. Muitas pessoas defendem o programa de “viver a vida”, gastar o que se tem, porque nada se leva, com a morte tudo acaba. Não se pensa no dia de amanhã, que poderá ser de escassez, de doença, de obstáculos que surgem inesperados. Então, a gente se desespera, culpa o momento, o sistema, o governo, quando não, joga a responsabilidade para Deus.

Houve um escritor brasileiro que inverteu a fábula. Não lembro bem a narrativa, mas escreveu que a Cigarra e a Formiga se encontraram em Paris. As duas avançadas em anos. A formiga se queixando do reumatismo, toda encurvada, com as pernas travadas, amparadas por muletas. A cigarra, dentro de um carrão, folgazona, exibia sua grife moderna e explicando para a velha amiga, que fizera sucesso com suas canções, sempre ponteando as paradas, nas rádios e na tevê. Contabilizava milhões de músicas cantadas por muitos e engordando o seu saldo bancário.

Transportando as duas versões da fábula para os dias de hoje, cada um pode optar se quiser ser cigarra ou formiga. É verdade que algumas pessoas brilham com sua arte, garantindo êxito, seja na música, seja no futebol. Mas são raríssimas. A maioria da população curte o início da Bíblia, que dispara: “Comerás o pão com o suor do teu rosto”. A família e a escola que ensinam à juventude, a disciplina, a ética, o valor do trabalho, o sacrifício inevitável, não passarão fome nos invernos da existência. Para os mais religiosos relembro a frase da primeira santa americana Rosa de Lima: “Para se subir ao Céu, só existe uma escada – a cruz!”    

Existem muitos pais que consomem sua vida, sacrificando-se pela prole, gastando até a saúde, para deixar aos filhos uma herança saudável. E justificam: “Não quero que os meus filhos passem o que eu passei”. ERRADO. Não há mal nenhum, é até dever educar os filhos, até com a vara, se necessário for. Ensinar a eles que é preciso aprender a nadar para atravessar o rio. Colocam a prole num barco chique, cheio de mordomias. Lá pelas tantas, surge uma onda, o barco vira, e ele se afoga, por não saber nadar. O filhinho criado na facilidade, viverá enquanto durar a herança. E quando os velhos se forem, estará solitário. Aliás, solitário não. Terá a companhia das dívidas. Cantou no verão, dance agora no inverno...
 

Fonte: