A saudade que eu quero ter
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terça, 26 de setembro de 2023

Costumeiramente se difunde que “saudade” é uma palavra portuguesa sem tradução para outras línguas... Pois é, mas se é intraduzível o fato é que ela é um sentimento universal. Dizemos sentir saudades para pessoas que não vemos há certo tempo e ao nos referirmos a lugares ou situações que nos deixaram com um sabor de quero mais. Diria que essa é a “saudade boa”, pois nos faz sorrir e desejar matá-la com um reencontro de abraços. 
Mas, e quando a saudade vira sofrimento? Nesse caso, podemos dizer que estamos vivenciando o sentido literal da palavra saudade que tem sua origem no latim e significa solidão. 
Porém, a saudade em nada tem a ver com solidão! Saudade é para ser um sentimento positivo, mesmo quando nos reporta a quem não tem mais como voltar. 
A saudade é multifacetada e se desvela em saudades de gente que partiu/foi morar fora/morreu, saudades de nós na meninice, saudades de períodos de vida, saudades de lugares em que vivemos e de coisas que não fazemos mais. Pode ser loucura, mas pode haver saudade até no que não vivemos, de tão tangível que às vezes se apresenta nossos desejos. 
Durante muito tempo a saudade foi associada à desilusão, perdas amorosas e de morte, sendo prova disso os inúmeros poemas e músicas dedicados ao assunto. Até Caio Fernando Abreu se rendeu à saudade quando disse: “Durante algum tempo fiz coisas antigas como chorar e sentir saudade da maneira mais humana possível: fiz coisas antigas e humanas como se elas me solucionassem. Não solucionaram.” 
Acho que já deu para perceber que quando a saudade dói, a raiz da dor não está em perdas, ausências ou distâncias, mas em algo mal resolvido dentro de nós. Talvez o grande erro seja a insistência de “buscar” ao invés de “somar”. Descomplicar a vida também está em alta. Puxa! Tem coisa tão simples que se resolve com um aperto de mão, um telefonema, uma viagem ou um convite e insistimos em nos boicotar em não os fazer. 
Medo do quê? De não encontrar outra mão para apertar? Da ligação cair na caixa postal? De receber um “não” ou uma porta fechada, mesmo quando a campainha insiste em tocar? Quem tem medo não consegue ver a verdade e perde de viver. Vive preso em suposições, em “serás” e transforma a existência em reticências... 
Então, “Se sentir saudades do que fazia, volte a fazê-lo. Não viva de fotografias amareladas...” (Madre Teresa de Calcutá), já que a saudade fica bem resolvida quando decidimos quando lembrar ou sentir algo, mas, para isso, às vezes é necessário usar pontos finais.

Bons Ventos! Namastê.
 

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