Dilúvio à vista
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sexta, 24 de novembro de 2023

O Livro do Gênesis, nos capítulos 6, 7 e 8, fala sobre o Dilúvio. Deus disse a Noé: “Chegou o fim de toda a criatura que existe. A terra está cheia de maldade e foi corrompida. Vou exterminá-la. Pouparei a tua família, pois tu és o único homem justo. Constrói uma arca para te abrigares, já que farei chover um dilúvio de 40 dias e 40 noites”.  Não nos parece que este episódio bíblico, ao menos em parte, está se repetindo? Com apenas 4 dias de chuva torrencial, muitas casas ficaram alagadas. Convenhamos que não existe hoje sobre a terra APENAS um homem justo, para aplacar a ira divina. E também não são 40 dias de borrasca. Agora, que a corrupção anda solta, isto é fato. E que estaríamos provocando a fúria de Deus, há motivos...
No início, parecia que era somente sobre algumas regiões, Muçum, Roca Sales. Depois, também o Sul do Estado foi contemplado com o descontrole dos elementos. A seguir, o centro, a região metropolitana e agora também o Norte, onde estamos nós. O nosso Rio Uruguai resolveu saltar fora do seu leito, trazendo as malévolas consequências. Enfim, São Pedro dormiu e o Rio Grande todo ficou encharcado. 
Não vamos falar da perda de vidas humanas, que é o mais grave, mas foram em ínfimo número. Nos tempos de Noé, o orbe inteiro foi dizimado. Fiquemos nos contratempos materiais que são volumosos. Muita gente perdeu a sua casa. Sem ter onde morar, como poderá subsistir aquela família? Precisará construir uma nova moradia, com o próprio esforço, com a ajuda de amigos e parentes e com a colaboração do Governo. E todos sabemos que os cofres públicos estão na míngua. 
Demos agora um olhar para os agricultores. Quantos colonos perderam, em parte ou totalmente, a sua safra que era o sustento e a garantia para o ano todo. Claro, eles são guerreiros, irão lutar, mas nesta luta também é indispensável o socorro público.
Muitas empresas também foram afogadas, deixando empregados sem emprego, e óbvio, sem vendas também não haverá recolhimento de impostos. E o caixa do Estado, que já estava magrinho, ficará sem os tributos tradicionais. De quebra, o Governo tem ainda de reconstruir pontes e consertar o asfalto. Final da história: tempos bicudos se avizinham. Já se vislumbra a cara do dilúvio bíblico! Excelente a mensagem do Bispo para toda a Diocese, reportando-se ao destempero climático.
Por que isto acontece? Todos destilam explicações. Os ecológicos atribuem à Natureza, castigada pelo Homem. O adágio fala: “Deus perdoa sempre, os homens às vezes, a natureza nunca”. A culpa seria dos desmatamentos indisciplinados, das queimadas, do lixo criado e deixado ao relento ou jogado nos rios e no mar. E como, então, explicar que a Amazônia sofre seca e o aguaceiro castiga o Sul? Outros lembram passados, quando as matas estavam incólumes, mas igualmente sobrevinham secas e enchentes. Eu recordo, na infância, o Rio Fortaleza desandava, deixando na copa das árvores pedaços de roupa, provando até onde a água tinha chegado. Em épocas de estiagem, íamos em procissão, de Taquaruçu a Vista Alegre, rezando para vir chuva. Com ou sem explicações, o sofrimento bate à porta. E com certeza, Noé não virá em nosso socorro. Em todo o caso, a Arca está à disposição. É a IGREJA. Você, se quiser, poderá entrar. Ou então, ficar fora e enfrentar o Dilúvio...
 

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