Uma carta inesperada
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sexta, 30 de agosto de 2024

Faz tempo, bastante tempo. Participávamos de um seminário em Florianópolis naquele final de semana, onde se encontraram pessoas de várias partes do Brasil. Não existia WhatsApp, o Orkut ainda estava na barriga da mãe dele, poucos tinham celular e raríssimos conseguiam enviar SMS através dele.

Naquele evento de dois dias foram realizados vários painéis, trocadas várias experiências entre os participantes e no final cada um recebeu um folheto com os endereços de todos os presentes para, caso alguém desejasse, pudesse trocar correspondências. Carta mesmo, das antigas, com envelope e selo, coisa que muita gente nem deve saber o que significa nos dias atuais.

Como eu estava prestes a me mudar, deixei o endereço de minha mãe como referência, pois, caso alguém me enviasse alguma carta, eu pudesse receber através dela, mesmo ciente de que seria muito difícil alguém enviar carta dentro daquele conceito de negócio. Até por que, você sabe, na hora desses tipos de encontro tudo é uma maravilha, mas depois é cada um por si e Deus por todos.

No jantar de confraternização do sábado à noite e também no almoço do domingo, o qual encerrava oficialmente o evento, ficamos numa turma onde havia um casal de Fortaleza. Conversa vai, conversa vem e o futebol não demorou a entrar na pauta. Um falou ser gremista, outro colorado, tinha torcedor do Santos e até flamenguista. E o casal de Fortaleza se dividia, ela Ceará, ele Fortaleza.

Para fazer uma média com a moça, quase todo mundo zoou seu esposo, mais ou menos nesse tom: “que cargas d’água alguém torceria para o Fortaleza? ”. Claro que foi tudo na descontração, mas ele não gostou muito da zoeira coordenada. E logo em seguida disparou: “ainda seremos um dos maiores clubes do país.” Obviamente todo mundo riu do sonho mirabolante daquele moço.

Dias atrás minha mãe me telefonou dizendo que havia chegado uma carta aos meus cuidados, de um tal de Diego. Não tive a mínima ideia de quem era e até achei que fosse algum cartão postal de estádio, já que eu era colecionador e volta e meia ainda chegava esse tipo de correspondência lá. 

Ela me entregou a carta na semana seguinte e vou descrever parte do conteúdo: “Fala, Marcio, tudo bem? Aqui é o Diego. Não sei se você ainda lembra de mim, sou o cara que esteve com vocês naquele seminário em Floripa há duas décadas e que disse que o Fortaleza seria um dos maiores clubes do Brasil, lembra? Pois é, resolvi mandar essa carta para todo mundo que me zoou. Vou deixar meu número, espero ter conseguido encontrá-lo e aguardarei ansiosamente sua mensagem, meu amigo. E nunca esqueça que jamais podemos duvidar de nada nessa vida, não é mesmo? Um abraço, Diego”.

Fiquei muito feliz em receber a carta, que está muito bem guardada aqui. Já salvei o número dele e estamos trocando ideias, ele com a boca nas orelhas e eu sofrendo com meu time aqui. E já deixei bem claro que torcerei muito para o Fortaleza ser campeão brasileiro. Ele disse que se isso acontecer irá me mandar uma camisa. Por fim me dei bem, ganhei um novo amigo e de lambuja posso receber uma camisa do time dele. Essa vida reserva cada coisa boa...

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