Era uma vez o 7 de Setembro
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sexta, 13 de setembro de 2024

In illo tempore vivia na Vila Salete uma jovem que queria estudar. Seus pais não tinham condições. Tanto ela insistiu que o pai conseguiu emprego em Iraí, no Hotel Teston. Assim, esta jovem, para poder estudar, foi ser empregadinha de hotel. Anos se passaram. A família se transferiu para um local inóspito e anônimo, nas terras do Barril. Aquela jovem, por ser ‘doutorada na universidade do Primário’, foi nomeada professora por João Muniz Reis, a fim de alfabetizar os analfabetos. Como o vilarejo não tinha nome, por inspiração do Espírito Santo ou de D. Pedro I, ela sugeriu 7 DE SETEMBRO. O prefeito acatou e assim se fez. Hoje é uma metrópole do ensino.
Aquela jovem se chamava Maria Lorini, minha mãe. Talvez por influência umbilical, eu me tornei professor, assim como o irmão Élio e as irmãs Célia Maria, Maria Eloísa, Maria Beatriz e Maria Inês. Rolaram mais de 75 anos, recordo as minhas professoras Dona Irma e Dona Marieta, e no pátio da escola estava plantado um mastro onde se hasteava a Bandeira do Brasil. Indo para o Seminário em Santa Maria, o dia 7 de Setembro era civicamente comemorado, com marchas e continência à Bandeira. Na Cidade assistíamos ao desfile militar e contemplávamos extasiados o rítmico passo dos Soldados e a passagem dos canhões e tanques, pois na saudosa Taquaruçu, só conhecíamos, como armamento, o facão e algumas espingardas de caçar passarinho.
Mais tarde, vindo a lecionar no Roncalli e no Cañellas, celebrava-se com pompa o Dia da Pátria, o 7 de Setembro. O pavilhão nacional, um dos mais belos do mundo, era hasteado e cantávamos, com peito juvenil, o Hino seguramente o mais marcial do universo, depois da Marselhesa. Um aluno discursava e outros declamavam poesias cívicas. O ápice dos festejos dera o desfile na Rua do Comércio, em que as Bandas do Roncalli e do Auxiliadora, disputavam o troféu, num legítimo Gre-Nal de competições. Todas as escolas se apresentavam com motivos alusivos, ocultamente preparados para surpreender a população. De uma feita, o Pé Salton organizou um batalhão de ex-reservistas, que se apresentaram militarmente fardados, disparando os fuzis diante da Pira da Pátria, fazendo o velho Pastre desmaiar.
Hoje, as comemorações murcharam. Apenas as três bandeiras drapejam fúnebres no Altar da praça. O Dia é tão comum, que até muitos trabalharam. Milhões de brasileiros vivem ou sobrevivem com o Salário do País. Todos sugam o leite da vaquinha pátria, mas raros lhe dispensam a ração. Todos celebram o dia do seu aniversário, mas o Dia da Pátria passa em branco. Todos brigam pelo seu terreno e ai de quem invadir um palmo do seu território. Ai de quem ultrapassar um metro do marco da divisa. No passado, D. Pedro I garantiu o nosso torrão natal, com lutas e sangue, bradando Independência ou Morte! Hoje, esqueceram que ele existiu. Que amanhã não sejamos dominados por alemães, americanos ou chineses. 
Na Bíblia, os Apóstolos, deslumbrados com a beleza de Jerusalém e a imponência do Templo, gritaram: “Senhor, vede que pedras, que construção”! Cristo contrapôs: “Pobre Jerusalém, um dia teus inimigos te sitiarão e te destruirão”. E Ele chorou. Alguém conhece algum político que chorou pela sua cidade, município, estado ou país? Pergunta-se: Os brasileiros merecem o Brasil? E o Brasil merece os brasileiros?
 

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