Ufa, estamos sempre aprendendo e quanto mais conhecemos, mais entendemos que precisamos conhecer ainda mais. Mas o maior desafio de um novo aprendizado é a sua incorporação à realidade social. Reconhecer que determinadas atitudes históricas são preconceituosas, mudar o padrão de comportamento individual e, por conseguinte, social não são tarefas fáceis.
Se pensarmos na evolução da humanidade, na régua de referência, a dominação estava associada à força, à beleza, à vitalidade, à capacidade física. Nessa lógica, uma pessoa em sua juventude ou no começo da fase adulta sempre esteve em uma posição privilegiada. Dentro deste contexto, “o que vinha antes não estava preparado” e o que vinha depois, “já estava saindo fora ou já tinha dado o que tinha que dar”! E até hoje ouvimos esses carimbos sociais nas pesquisas de opinião e de mercado realizadas pelo IPO – Instituto Pesquisas de Opinião.
Hoje em dia estamos tratando de dois distintos, mas complementares, conceitos: o etarismo social e a velhofobia. O etarismo social diz respeito ao preconceito ou discriminação contra pessoas com base na sua idade, tendendo a ocorrer contra os mais velhos. Neste debate a definição de “mais velho” pode ser relativizada. Em determinados ambientes, uma pessoa de 30, 40 ou 50 anos, pode ser considerada “velha”. Por sua vez, a velhofobia é um termo que se refere ao preconceito, discriminação ou hostilidade em relação a pessoas idosas, a partir dos 60 anos. O termo velhofobia também pode ser tratado como idadismo.
Tanto o etarismo social quanto a velhofobia podem se manifestar no contexto familiar, educacional, de consumo, mas principalmente, no mercado de trabalho e no sistema de saúde.
Podemos analisar a discriminação que é estimulada pelo mercado de consumo, que glorifica a juventude, promovendo produtos e estilos de vida que exigem uma maior capacidade física, ignorando as necessidades e preferências de grupos mais velhos. É comum a crítica à publicidade, que mostra ideais de beleza, de saúde, de sucesso, marginalizando os mais velhos. No mercado de trabalho, é notória a dificuldade para se conseguir emprego ou promoção, com a premissa de que a maior produtividade e inovação está associada aos mais jovens. No sistema educacional, a maioria dos planos pedagógicos segue o mesmo padrão de ensino, sem utilizar ferramentas que levem em consideração as fases da vida. Na saúde, há atendimentos médicos que não levam em consideração as queixas e os sintomas de cada faixa etária. E até na construção civil, a maior parte das novas construções são pensadas para um tipo ideal de pessoas.
Mas o nosso principal foco de reflexão deve estar dentro de cada um de nós e dentro de nossas famílias. Não podemos esquecer que fomos educados em uma cultura social, econômica e política que sempre desconsiderou ou até enxergou as pessoas mais velhas como fardos, com desvalorização das opiniões e experiências dos idosos, tratamento desrespeitoso ou paternalista e exclusão dessas pessoas das atividades sociais.
Temos que ter em mente que combater o etarismo ou a velhofobia exige uma mudança de mentalidade, em que a experiência e o conhecimento sejam valorizados, reconhecendo que dentro de cada família temos os nossos “oráculos”. Com o reconhecimento dentro de casa, estaremos prontos para romper com os preconceitos da porta para fora.