Amizade é algo muito sério para levarmos “pela metade” já que subsiste pelo contínuo afeto que a dedicamos. Diria que de todas as dileções a amizade ganha sem questionamentos, pois sobrevive aos nossos egos, erros e infortúnios. Amigo que é amigo, nos aceita sem maquiagem. Nos dá colo sem julgamentos. Nos aguenta falar por horas das mesmas coisas, como aquele amor que se foi. Amigo é parceiro de risos, choros e tropeços na calçada. E até os “puxões de orelha” advindos da amizade são mais suaves que as reprimendas maternas, porém incisivos quando necessário.
Por vezes, passamos anos sem abraçar um amigo ou até mesmo sem trocar uma mensagem, mas a chama do afeto está lá, mesmo que oscilando entre bambezas ou labaredas. Inevitável dizer que com o aporte multimidiático que vivenciamos nos últimos tempos, as amizades proliferaram na medida em que as redes sociais propiciam reencontros com velhos amigos e promovem um novo tipo de camaradagem: o amigo virtual. Inclusive, a amizade virtual apesar das críticas, por vezes nos concede mais trocas (elogios/carinho/atenção) do que aqueles que desfrutam nosso convívio. Talvez porque não tenhamos o hábito de elogiar ou porque nossa timidez nos faça refém de uma comunicação à distância ou ainda, porque esquecemos o quanto é prazeroso se doar. Abusamos dos emoticons (forma de comunicação para linguística) para expressar através de símbolos (carinhas, corações, sinais, animais) sentimentos de raiva, tristeza, alegria, dúvida, ironia ou satisfação. Sinal dos tempos..., mas, que tempo é esse em que vivemos? Tempo em que nos acarinhamos com GIFs (imagens), emoticons e indexamos esse sentimento com hashtags (#). Nos tatuamos virtualmente e isso não é ruim, pois não deixa de ser uma expressão de apreço, onde por alguns segundos alguém usa de seu tempo para se importar com você. Também, tem os aplicativos que possibilitam uma maior interação em mensagens privadas, onde mandar uma música ou uma mensagem de Bom Dia pode fazer a diferença no dia de alguém. Todavia, ainda me rendo à força do verbo e aos encantos poéticos e romanescos que possam costurar essa fala, pois nada substitui o que é construído pelo homem em sua interação com o próximo. Amizade, seja presencial ou virtual merece respeito e não combina com metades, pois não existe “meio amigo”. Amizade não é um romance com data de validade e, assim como no amor, exige cumplicidade. Talvez nosso maior desafio seja contabilizar nossas amizades. Perceber que menos é mais em se tratando de amigos. Amigo do latim “amicu” sempre conotou companheirismo e afeto e, assim como a palavra PAZ não requer explicações, pois o simples fato de chamar alguém de AMIGO, já traduz a gama de sentimentos que envolve uma amizade. Costumamos reclamar o quanto é insólito um legítimo amor, todavia “Ainda que seja raro o verdadeiro amor, é, no entanto, menos raro que a verdadeira amizade.” (François La Rochefoucauld). Início de ano e talvez momento apropriado para refletir a quantas andam nossas amizades. Hora de revirar o baú onde guardamos os amigos e ver o que sobrou. De fazer uma faxina nos contatos nas redes sociais que estão lá só para stalkear nossa vida e ao mesmo tempo te bloquear parcialmente de ver seus posts. Hora de desapegar de gente invejosa, maldosa e maledicente e ser feliz com as amizades sinceras que restam, e as novas que estejam porvir. É tempo de “Entregar, confiar, aceitar e agradecer.” (Prof. Hermógenes – divulgador de Hatha Yoga no Brasil) e de não mais aceitar o que nos vem pela metade, "Não suporto meios termos. Por isso, não me doo pela metade."(Clarice Lispector).
Bons Ventos! Namastê.