A vocação profética do cristão
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segunda, 31 de janeiro de 2022

Pelo Batismo, todos nós recebemos a vocação profética. É preciso entender com clareza o que significa esta vocação em nosso ser e em nossa vida de cristãos.
A missão profética traz consequências muito claras: o profeta é como que a consciência crítica no mundo, fundamentando-se na Palavra de Deus. O profeta não apresenta sua opinião, sua vontade, mas sim aquilo que Deus quer para seu povo. Contudo, há como que uma ideia subjacente à missão profética. Pensa-se muita vezes no profeta como alguém amargo, pessimista, anunciador de desgraças iminentes ou futuras. Tal mentalidade está muito longe do autêntico profetismo, como ele é entendido na Sagrada Escritura.
O profeta, ainda que sendo obrigado a denunciar erros e desvios, é alguém que realiza, em nome de Deus, uma ação de amor. A missão profética é antes de tudo, uma missão que busca trazer as pessoas e o povo de Deus para a fidelidade a seu Senhor. Por esta razão, o autêntico profeta busca, antes de tudo, aqueles que se afastaram da fidelidade a Deus, buscando trazê-los novamente à comunhão amorosa de Deus. O profeta é anunciador da esperança, de tempos e de realidades novas, fundamentadas na fidelidade a Deus. O profeta não é homem de ruptura, de quebra, mas sim da Aliança. Sua missão visa reconduzir aqueles que traíram esta Aliança para a fidelidade querida por Deus. 
Para nós cristãos, o modelo acabado do profeta é Jesus. Ele vem restaurar a Aliança desfeita pelo pecado de nossos primeiros pais e suas consequências para toda a humanidade. Jesus é profeta e mais do que profeta: não só anuncia uma nova realidade, mas realiza esta nova realidade, que é a comunhão perfeita entre Deus e a humanidade, realidade que para nós será plena na vida eterna.
A 1a Leitura deste Domingo (Jeremias 1,4-5.17-19) nos apresenta os fundamentos da Missão profética: o profeta não é alguém “que se escolhe” para tal. É Deus quem o chama para esta Missão e quem o capacita e o destina. O sucesso da Missão profética é garantido por Deus, que não envia ninguém para a derrota. Aí nasce a força e a coragem de um autêntico profeta. Ele tem consciência de que não fala em nome próprio, mas sim no de Deus.
Na 2a Leitura (1o Coríntios 12,31-13,13) São Paulo nos ensina a trilhar um caminho na vida: um caminho superior, o caminho do amor. Fundamentados no amor que Deus tem para com seus filhos, que é um amor absoluto, de entrega, de não tirar nada de ninguém, mas ao contrário, um amor que dá a vida pelo bem de quem se ama, nós cristãos somos chamados a viver desta forma, fazendo de nossa vida um dom para os demais. 
No trecho do Evangelho de hoje (Lucas 4,21-30), Jesus se apresenta como um profeta de Deus, que vem para cumprir, na obediência radical de sua vida, a vontade do Pai. A rejeição sofrida por Jesus baseia-se no fato de que o orgulho dos judeus de seu tempo, a crença de que eram melhores e mais merecedores da atenção de Deus, transformava aqueles homens em pessoas cegas, incapazes de acolherem a mensagem universal de salvação anunciada por Jesus. A reação de expulsar Jesus de sua cidade demonstra este fechamento de alma para a a proposta de salvação que Jesus vem trazer.
Em cada Eucaristia que celebramos recebemos um convite do Senhor que espera uma resposta muito maior do que a simples presença: O Senhor espera nossa adesão à proposta de viver em comunhão com Deus e de sermos construtores da comunhão com os irmãos. 
 

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